Areia na biomassa da cana é desafio para a produção de etanol celulósico
Em meio ao desafio de tirar açúcares de dentro do bagaço e da palha da cana para transformá-los em um etanol de custo competitivo, as duas únicas usinas de produção do biocombustível de segunda geração em atividade no país, da GranBio e da Raízen Energia, partiram neste ano para sua primeira safra completa de operação - e ajustes.
Na lista dos percalços a resolver, ganha destaque minimizar a corrosão dos equipamentos de aço causada pelas impurezas minerais (terra) vindas do campo com a matéria-prima. Por essa e outras questões tecnológicas, as unidades deverão operar, no melhor dos cenários, com metade de suas respectivas capacidades instaladas neste ciclo 2015/16.
Somadas, as duas unidades têm capacidade para produzir 122 milhões de litros de etanol celulósico por ano. A maior delas, da Bioflex, controlada pela GranBio, holding da família Gradin, tem capacidade para 82 milhões de litros e foi inaugurada em outubro, em Alagoas.
Mas a Bioflex vem tendo dificuldades de manter uma operação contínua, sem interrupções. Isso porque a terra que entra na fábrica junto com a palha da cana, quando submetida a pressão e temperatura elevadas, corrói com agressividade as estruturas de aços da planta.
A danificação de válvulas, bombas e tubulações vinha acontecendo de forma constante, a ponto de ser necessária a paralisação da fábrica para ajustes. Mesmo agora, ainda que em menor escala, essa erosão ainda é um problema.
Segundo o vice-presidente de novos negócios da GranBio, Alan Hiltner, uma série de ajustes já foram feitos, tais como o revestimento com cerâmica dessas estruturas danificadas e o redimensionamento do raio de algumas válvulas. Atualmente, a unidade está operando com 30% de sua capacidade instalada.
Desde outubro do ano passado, a Bioflex, localizada em São Miguel dos Campos (AL), produziu, no total, 2 milhões de litros de etanol celulósico - metade no último trimestre de 2014 e o restante neste ano. A companhia ainda não arrisca projeções para 2015/16. Segundo Hiltner, a palha da cana está entrando na fábrica da empresa com teor de impurezas de 8%.
Somando-se a produção da Bioflex e a da unidade de segunda geração da Raízen Energia, esta última inaugurada em dezembro, o volume de etanol celulósico fabricado no país ficou próximo de 3 milhões de litros - um volume apenas simbólico ante os 30 bilhões de litros produzidos na chamada primeira geração, que usa o caldo da cana-de-açúcar.
A Raízen Energia, controlada por Cosan e Shell, não está, ao menos por ora, padecendo com corrosão das estruturas metálicas de sua unidade de segunda geração, localizada na usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP). Mas, até o momento, a empresa está usando basicamente o bagaço da cana, que é uma matéria-prima mais "limpa" do ponto de vista de impurezas minerais.
No entanto, o uso da palha da cana como matéria-prima complementar - ou principal - será mandatório para o êxito dessa tecnologia.
No projeto original de sua usina de segunda geração, a companhia elegeu para os equipamentos do chamado "pré-tratamento" - ambiente mais suscetível à abrasão, dadas as altas temperatura e pressão nele presentes - o uso de um aço especial, resultado da junção de duas ligas super-resistentes, explica Stuchi. Com isso, constata ele, não existe neste momento nenhum problema relacionado à erosão dos equipamentos. No entanto, lembra ele, há um limite recomendado pelo fabricante para a presença de "areia" por tonelada de matéria-prima, que é de aproximadamente 4%.
O bagaço de cana sai da fábrica de primeira geração e entra na planta de etanol celulósico com 3% de impurezas, diz Stuchi.
Por isso, a ideia é colher a palha dos canaviais da Costa Pinto, e usá-la na caldeira para produzir eletricidade, desviando o bagaço, que contém menos impureza, para o processo de etanol celulósico.
Nas contas do vice-presidente de açúcar e etanol da companhia, Pedro Mizutani, a usina de etanol celulósico deverá fabricar em 2015/16 entre 10 milhões e 15 milhões de litros, ainda abaixo da capacidade anual de 40 milhões de litros.
Fonte: Idea Online via Portal do Agronegócio