Na noite de sexta-feira (24/4), o governo da Argentina anunciou sua retirada como país membro do Mercosul. O motivo alegado é a crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O anúncio foi feito pelo Paraguai, país que atualmente exerce a presidência do bloco, depois da delegação argentina se pronunciar durante uma reunião dos coordenadores do Grupo Mercado Comum, feita em videoconferência. Além dos dois países, o Mercosul é formado por Brasil e Uruguai, mais Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Equador como membros associados.
O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, esteve no Brasil em fevereiro, reunido com o presidente Jair Bolsonaro. À época, disse que seu país adotaria uma postura “pragmática e realista”. Agora, afirma que a retirada do Mercosul é consequência da decisão dos demais países do bloco em continuar negociando acordos de livre comércio com países que produzem bens e serviços que concorrem diretamente com produtos da Argentina, como é o caso das atuais negociações com a Coréia do Sul, o Líbano, a Índia e o Canadá.
A nota emitida pelo Paraguai informa que a Argentina se manterá nos dois acordos já fechados. Um deles é o acordo Mercosul-União Europeia, anunciado em 28 de junho do ano passado, em Bruxelas, capital da Bélgica, depois de 20 anos de negociações. O outro acordo, o Mercosul-Efta (Associação Europeia de Livre Comércio), foi fechado alguns meses depois e envolve especificamente produtos agrícolas negociados com Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. “A presidência pro tempore do Paraguai e os outros Estados membros do Mercosul vão avaliar medidas jurídicas, institucionais e operacionais adequadas em razão da decisão soberana da República Argentina”, completa a nota.
Brasil e Argentina
Para Sebastião Guedes, membro do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), que nas últimas décadas esteve à frente de inúmeras negociações internacionais e que até o mês passado era vice-presidente de relações internacionais e coordenador da cadeia produtiva do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, a posição da Argentina não é propriamente uma novidade. “Los hermanos são mais preocupados com o mercado interno do que nós”, afirma Guedes. “Mas a conjuntura atual do país não favorecerá grandes lances no comércio internacional.” De acordo com Guedes, em relação à carne bovina também não há riscos para o Brasil. “A vantagem deles reside na qualidade e no câmbio.” Mas não no volume exportado.
No ano passado, o Brasil exportou aos países do Mercosul US$ 2,7 bilhões em produtos agrícolas. Desse total, US$ 1,2 bilhão foram para a Argentina, país com o qual o Brasil tem déficit na balança comercial. Em 2019, o Brasil gastou no país vizinho US$ 3,4 bilhões. Desse total, US$ 1,8 bilhão foi com a compra de farinha de trigo e suas preparações, mais cereais.
No caso das carnes, o Brasil exportou para a Argentina US$ 102,4 milhões. A principal proteína vendida foi a carne suína, com US$ 70 milhões em negócios. De carne bovina foram US$ 26,8 milhões, praticamente toda a carga de produto in natura.
Com importações de proteína animal da Argentina, o Brasil pagou ao país vizinho US$ 88,2 milhões, com grande peso para a carne bovina que respondeu por US$ 75,1 milhões. De produto in natura, basicamente de carne premium, foram 8,9 mil toneladas por US$ 70,8 milhões. “Sobre a carne bovina, o que sempre me impressionou foi a união da cadeia no Instituto de Promoción de la Carne Vacuna Argentina, que lá funciona bem sincronizado com o mercado.”
Fonte: Portal DBO