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Brasil é líder no contexto da bioeconomia mundial

Modelo de produção industrial baseado no uso sustentável de recursos biológicos, a bioeconomia movimenta cerca de 2 trilhões de euros no mercado mundial.

 

Rica biodiversidade, grande extensão territorial para a produção de alimentos e de energia renovável e domínio tecnológico fazem com que o Brasil seja um dos líderes globais no contexto da bioeconomia mundial. É o que pensa o Chefe-geral da Embrapa Agroenergia Guy de Capdeville.

 

Modelo de produção industrial baseado no uso sustentável de recursos biológicos, a bioeconomia movimenta cerca de 2 trilhões de euros no mercado mundial e gera cerca de 22 milhões de empregos, segundo dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, as atividades do setor são prioridade em pelo menos metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, desde a segurança alimentar até a garantia de acesso à energia e saúde.

 

“No novo contexto de sustentabilidade ambiental, o que estamos buscando são fontes renováveis de matéria-prima e o desenvolvimento de processos para convertê-las de forma sustentável e ambientalmente amigável e de forma a produzir resíduos que possam ser reincorporados ao processo de produção”, explicou o pesquisador.

 

Capdeville citou alguns setores importantes para o País dentro do contexto da Bioeconomia, como o do etanol, que utiliza a cana-de-açúcar com matéria-prima para a produção de etanol, açúcar e bioeletricidade, o do biodiesel e o de papel e celulose. “O simples fato de misturamos o etanol com a gasolina gera uma redução enorme em volumes de emissão de CO2 equivalente. Reduzimos em tal nível que, nos últimos 20 anos, essa mistura foi equivalente ao plantio de quatro bilhões de árvores no País”, disse o pesquisador.

 

Ele citou algumas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa na área de energia que têm contribuído para a inovação na economia brasileira, como a pesquisa com cana-de-açúcar que permite a utilização do bagaço da cana para a produção de etanol de segunda geração, polímeros, novas moléculas e/ou ácidos orgânicos entre outras.

 

“A Embrapa Agroenergia está desenvolvendo novos materiais de cana-de-açúcar, e também buscando novas oleaginosas que possam ser alternativa à soja visando a diversificação de matérias-primas no setor de produção de biodiesel. Também temos pesquisado novos processos e desenvolvido novos insumos agroindustriais como coquetéis de enzimas e novos microrganismos, a fim de ampliarmos o rol de ofertas de produtos de interesse e com maior valor agregado”, disse.

 

Novas oportunidades de ganho para a indústria

 

Produzir matérias-primas que possam ser convertidas por múltiplos processos em produtos de alto valor agregado poderá gerar novas oportunidades de ganho para a indústria, afirmou Guy. “Mesmo o bagaço da cana-de-açúcar sendo utilizado para produção de bioeletricidade, ainda há muita sobra que poderá ser convertida em outros produtos de valor agregado com novas oportunidades de ganho para a indústria”.

 

Segundo o pesquisador, a Europa faz grande pressão para que o setor de energia em geral, e biocombustíveis em particular, use no processo produtivo apenas matérias-primas que não concorram com a produção de alimentos. No Brasil, algumas alternativas como o algodão cujo óleo pode ser utilizado para a produção de biodiesel são consideradas tóxicas por possuírem moléculas com efeito nocivo para humanos e animais. Tal toxicidade inibe a utilização dos coprodutos destas cadeias produtivas, como a torta resultante da prensagem, na alimentação animal. No caso, cita o pesquisador, o caroço do algodão (torta) só pode ser adicionado num percentual de 20% na ração animal, em função da presença de gossipol. Para resolver esse problema, e com isso alavancar a utilização da matéria-prima, a Embrapa Agroenergia desenvolveu um processo que utiliza macrofungos para detoxificar a torta do algodão e possibilitar um melhor aproveitamento na ração animal, além de baratear o seu custo.

 

Apoio e Políticas Públicas

 

O pesquisador também falou da necessidade de apoio governamental para que o Brasil avance no contexto da bioeconomia. “O papel da Embrapa nesse sentido tem sido o de prover tanto as soluções para o segmento produtivo embarcar em novos produtos, processos e serviços quanto as informações que possam subsidiar as políticas públicas que eventualmente os governos e indústria queiram para implementar esses novos processos mais sustentáveis”, afirmou.

 

Como exemplo do que já vem sendo feito no Brasil no âmbito da política, ele citou o Programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade lançado em junho pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), um grupo de estudos em bioeconomia dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) e ainda o Renovabio, política criada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que visa dar crédito a quem produzir com mais sustentabilidade.

 

Como desafios para o futuro, o pesquisador citou, além de políticas que ajudem o setor a se estruturar, a necessidade de se fazer um esforço para a abertura de mercados principalmente no exterior, a resolução de problemas logísticos para possibilitar a movimentação dos produtos da bioeconomia e programas de pesquisa fortes com financiamento, dentro da lógica de interação público-privada.

 

“O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá papel importante para apoiar as novas indústrias que venham a se estabelecer dentro do contexto da bioeconomia, como foi feito com o petróleo no passado. O Estado vai precisar apoiar essa estruturação para que depois o próprio setor industrial consiga se movimentar sozinho nesse contexto”, concluiu.

 

Por último, o pesquisador da Embrapa disse acreditar que a matriz energética brasileira poderá ser totalmente substituída por fontes renováveis de energia. “Já estamos nesse movimento. Hoje o setor do biodiesel tem uma capacidade ociosa e ainda pode dobrar a sua produção. O próprio setor já está buscando soluções e alternativas para poder produzir em grande escala e facilmente poderemos substituir a nossa matriz energética por fontes renováveis”.

 

Fonte: Embrapa via Portal do Agronegócio