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Brasil lança parceria internacional para voltar a incentivar o etanol

Brasil ressuscita a antiga "diplomacia do etanol", agora rebatizada como "diplomacia da bioenergia", lançando uma plataforma com 19 outros países para ganhar escala na produção de biocombustíveis de segunda geração, a partir da quebra de celulose, a fim de reduzir emissões do setor de transporte.
Depois de anos sem defender o etanol como uma política externa, o Brasil vai reassumir nesta quarta-feira (16) sua “diplomacia do etanol”, que tinha sido marcante na primeira gestão Lula, agora rebatizada de “diplomacia da bionergia”. O País lança junto com 19 outras nações a “Plataforma Biofuturo”, uma parceria para incentivar os chamados biocombustíveis avançados e ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte.
Para o cenário brasileiro, a idéia é dar escala para o etanol de segunda geração, obtido através da quebra de celulose do bagaço de cana (e não só do açúcar), hoje já obtido por duas usinas no Brasil, mas ainda em quantidade pequena.
Atualmente o País produz cerca de 30 bilhões de litros de etanol por ano somente com a tecnologia de primeira geração. De acordo com o governo federal, a segunda geração tem potencial para aumentar em 50% a produção.
Esses 15 bilhões de litros extras deixariam o Brasil perto de cumprir uma das metas nacionais junto ao Acordo de Paris, que é fazer com que os biocombustíveis respondam por 18% da matriz energética até 2030. No caso do etanol, a produção teria de saltar para 50 bilhões de litros.
De acordo com Renato Godinho, chefe da Divisão de Recursos Energéticos do Itamaraty e um dos nomes por trás da plataforma, a ideia é que os países trabalhem para oferecer soluções rápidas para as emissões de transporte. Hoje, segundo cálculos da Agência Internacional de Energia, o setor (que inclui também navegação e aviação), responde por 23% das emissões de gases de efeito estufa de energia.
“A tecnologia de usar material celulósico já saiu do laboratório e chegou à indústria, mas ainda tem alguns problemas de escala. Queremos chamar a atenção do mundo para essas coisas. Países como China e Índia nunca pensaram em plantar cana (porque competiria com a produção de alimentos), mas com essa tecnologia podem usar palha de arroz, de milho e extrair mais valor”, disse a jornalistas brasileiros em Marrakesh. Já existem seis plantas de biocombustível avançado no mundo. Duas estão no Brasil (Alagoas e Piracicaba). A maior está nos Estados Unidos.
Artur Milanez, gerente do Departamento de Biocombustíveis, também envolvido na plataforma, acredita que o modelo pode ajudar a derrubar barreiras europeias ao produto, que se estabeleceram por causa do potencial risco de a cana-de-açúcar roubar espaço de alimentos ou impulsionar o desmatamento da Amazônia. Como o etanol de segunda geração é feito com resíduos da produção de primeira geração, não existe pressão para aumento de área.
 
A retomada da investida brasileira em etanol internacionalmente ocorre em um momento que cresce a tentativa de eletrificar a frota de carros no mundo. A Alemanha decidiu em outubro que vai proibir a venda de veículos a combustão (de diesel e gasolina) a partir de 2030. E a Índia anunciou um plano de só ter carros elétricos circulando nas ruas naquele ano.
Questionados se isso não poderia ser um problema para os planos de expansão, Milanez e Godinho disseram acreditar que a mudança não será tão imediata quanto a que pode ser oferecida já pelo etanol.
“A eletrificação requer trocar a frota inteira, infraestrutura para lidar com as baterias. Acho que os planos vêm mais do fato de que os países ainda não veem outras possibilidades de resolver as emissões de transporte”, comentou Godinho. “Mesmo nos cenários mais otimistas, ainda devemos ter motores a combustão por um bom tempo.”
Ele acredita também que a eletrificação não será num primeiro momento soluções para o transporte aéreo e naval. “Usar biocombustível para isso está no mandato da plataforma”, explicou.
O evento, sob comando dos ministros Sarney Filho (Ambiente) e Blairo Maggi (Agricultura), será realizado na 22.ª Conferência do Clima da ONU, que ocorre em Marrakesh. Também participam representantes de Argentina, Canadá, China, Dinamarca, Egito, Estados Unidos, Finlândia, França, Filipinas, Holanda, Índia, Indonésia, Itália, Marrocos, Moçambique, Paraguai, Reino Unido, Suécia e Uruguai. “É o G20 da bioeconomia”, brincou Godinho. 
 
Fonte: O Estado de S. Paulo via Cana Online