Cena comemora 50 anos de atividades e pioneirismo em pesquisas
O Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), instituto especializado da USP (Universidade de São Paulo) fundado por docentes da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), comemora 50 anos na quinta-feira com foco no futuro da humanidade e por ser o pioneiro no desenvolvimento de pesquisas a partir da energia nuclear para fins pacíficos. O centro atua com investimentos em estudos técnicocientíficos de ponta e na melhoria da produção e oferta de alimentos saudáveis e na defesa do ambiente por meio de pesquisa e ensino.
Fundado em 22 de setembro de 1966 com a missão de difundir o conhecimento científico e tecnológico, o Cena possui pesquisadores que conduzem cursos e treinamentos em diversas áreas de pesquisa e, em muitas delas, há interação com a indústria e empresas exportadoras de alimentos, envolvendo desenvolvimento e implementação de tecnologias avançadas. O local mantém infraestrutura de primeiro mundo e com equipamentos de alta complexidade.
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Piracicaba, a diretora e professora do laboratório de biologia celular e molecular do Cena, Tsai Siu Mui, e o vice-diretor e professor do laboratório de isótopos estáveis, José Albertino Bendassolli, destacaram para as próximas décadas a agricultura sustentável, a preocupação com a água, a captação de recursos para pesquisas e a importância dos alunos dos programas de graduação — interunidade com a Esalq — e de pós-graduação.
O Cena mantém constante preocupação com os recursos naturais — a qualidade das águas é uma delas. “Não só dos mananciais, mas, do começo ao fim, há a preocupação com a água para o consumo, em como nortear as políticas públicas. Já foram feitas inúmeras pesquisas com a parte isotópica, depois nuclear, e isso foi muito importante para estudar a origem e a qualidade das águas, inclusive os fluxos da água dentro da Amazônia. O Cena começou a trabalhar em grandes projetos com as bacias hidrográficas, como no Amazonas; o pólo noroeste, em Rondônia; aqui no Estado de São Paulo, da Piracema; e também as pequenas e médias bacias, como as dos rios Piracicaba e Corumbataí”, disse a diretora.
“Na nossa área da agricultura, sempre pensamos na parte florestal, em como manter as águas. Está bem claro atualmente que a área fluvial é do começo dos riachos e a mata ciliar é fundamental para essa manutenção. E, quando você trabalha também com a eficiência do uso de fertilizantes, diminuindo o impacto ambiental e aumentando a produtividade, se consegue atrair recursos externos”, afirmou Tsai.
Desde 2001, o Cena lidera programa de gestão de água, energia e resíduos químicos. “Hoje, mais de 600 toneladas de resíduos químicos são recicladas, recuperadas ou reutilizadas, com a destinação correta desses resíduos e a disposição dos rejeitos. Isso também traz economia de água, de energia e boas práticas para a comunidade como um todo”, relatou o vice-diretor.
Um dos destaques apontados pela diretoria é a educação ambiental dos jovens, desde o ensino médio à especialização. “É uma preocupação muito recente, porque necessita não só de recursos, investimentos, mas também de estratégias; não só educar, mas fazer. Para fazer, é preciso de muito mais investimento. É necessário também que empresas públicas e privadas trabalhem de uma forma que atinja toda a comunidade. Isso ainda falta e, para melhorar, é preciso de investimento. A iniciativa privada tem saído bem com alguns programas”, afirmaram.
O centro tem conseguido êxito com as agências que fomentam pesquisas — internacionais e nacionais — e com a busca pela excelência. “Mas, ao mesmo tempo que se tem essas entidades que ajudam, estamos passando um período mais difícil (crise), porque há um percentual muito baixo de investimentos em ciência. De modo geral, o investimento caiu, especialmente o nacional. Internacional nem tanto porque, se existir, a gente sempre aplica. Mas também depende de uma infraestrutura que nós formamos nesses 50 anos. Temos uma maravilhosa infraestrutura com destaque para a parte nuclear, de microbiologia molecular genética, melhoramento e química”, disse Tsai.
De acordo com Bendassolli, a parte física do Cena contribui para o desenvolvimento de pesquisas de ponta por causa dos equipamentos de alta complexidade e excelência que possui. “Temos subsídios para que as atividades sejam executadas. O Cena, nos últimos seis anos, teve um valor total na ordem de R$ 90 milhões captados de recursos de agências de fomento. Então, o instituto vai buscando essas alternativas para projetos de pesquisa que são estabelecidos nas três áreas de conhecimento que temos aqui”, afirmou. Entre os agentes fomentadores, destaques para a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); o Cnpq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos); a Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica); além de recursos provenientes da própria USP, na ordem de 15%. “Então, 85% são de recursos que vamos buscar fora, inclusive com empresas privadas”, disse Bendassolli.
Fonte: Jornal de Piracicaba