Controle biológico de pragas avança e atrai estrangeiras ao Brasil
O controle biológico de pragas ganha espaço. Novas empresas, inclusive multinacionais da indústria agroquímica, começam a olhar com mais atenção para o setor.
Além disso, devido à extensão da agricultura no Brasil, empresas estrangeiras e que atuam nesse setor de proteção biológica– têm investido na compra de companhias brasileiras. Nos últimos anos, pelo menos quatro trocaram de mãos.
A capacidade total de produção das empresas dedicadas ao setor de controle biológico no país é suficiente para cobrir apenas 20% da área semeada no país.
Diante de evolução constante, para este ano, espera-se crescimento de 15%, "é preciso estabelecermos padrões mínimos de qualidade no setor", diz Pedro Faria Jr., engenheiro-agrônomo e presidente da ABC Bio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico).
A associação, que congrega 23 empresas do setor, entende que é necessário o estabelecimento desses padrões mínimos de qualidade para que o produto tenha qualidade e eficácia.
O controle vai retirar do mercado produto feito sem o padrão necessário e que coloca em risco a própria imagem do setor, segundo ele.
O controle biológico se utiliza de agentes do próprio ambiente, como fungos, bactérias, nematóides (vermes), vírus, insetos e ácaros.
Esses agentes são coletados, pesquisados, identificados e, testada a eficiência deles, são utilizados no combate às pragas.
Na avaliação de Leontino Balbo, precursor na criação de um sistema agro-ecológico em lavouras de cana-de-açúcar, o controle biológico "é fundamental e de graça".
Ele é feito não só por fungos e bactérias como por animais vertebrados, como ratos e pássaros.
Para Balbo, deve haver equilíbrio de pressões no ecossistema. Organismos, quando em equilíbrio, põem pressão uns sobre outros.
Faria diz que o controle biológico das lavouras é necessário. Com a chegada dos produtos transgênicos, algumas lagartas, por exemplo, são eliminadas. Outras, que ficam sem a concorrência das eliminadas, se expandem pelas lavouras.
Esse combate pode ser feito por um controle biológico, que é complementar ao dos agroquímicos, afirma o presidente da ABC Bio.
Eduardo Daher, diretor-executivo da Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), concorda com essa complementariedade.
APRENDIZADO
Isso tem levado várias empresas do setor agroquímico a buscar esse mercado. "Vai ser, no entanto, um aprendizado para todos", diz Daher.
Para Balbo, a participação dessas empresas no setor de controle biológico é positiva, mas é necessário o desenvolvimento de novo modelo de agricultura, em que o fazendeiro passa a entender em que ambiente ele está cultivando.
As empresas deveriam tentar entender como funcionam esses ecossistemas e se especializarem em vender manejo. Apontar ao produtor como fazer, e não o que fazer.
Mas há problemas a serem resolvidos, segundo Faria. Entre as lições de casa, está a capacitação de técnicos e de agentes de vendas.
Além disso, o governo deve entrar em ação, coibindo a "produção caseira" desses produtos biológicos. "O biológico depende de orientação técnica até mais refinada do que a do produto químico".
Fonte: Folha de S. Paulo via CanaOnline