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CTC planeja apresentar 2 variedades de cana para uso comercial em 2018/19

O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), líder mundial em pesquisas com cana-de-açúcar, planeja submeter à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) até duas variedades da planta resistente à broca na safra 2018/19, em mais um passo rumo à oferta pública de ações prevista para 2021.
 
As duas novas variedades se somariam à Cana Bt, a primeira geneticamente modificada do mundo aprovada para uso comercial por um órgão oficial de biotecnologia, disse à Reuters o presidente da companhia.
 
A Cana Bt, que tem tecnologia do CTC, aprovada pela CTNBio no ano passado, também é resistente à broca, inseto que gera prejuízos de 5 bilhões de reais por ano à indústria brasileira em perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas, segundo a empresa.
 
"Nossa meta é de vários anos... Primeiro vamos criar um portfólio de variedades com essa característica que adicionamos à cana, que é a resistência à broca... Nossa ideia é submeter uma ou duas (variedades neste ano), depende dos testes que estamos concluindo", afirmou Gustavo Leite, que também presidiu a Monsanto no Brasil e no Canadá.
 
"Nos anos subsequentes, já estaremos com esse portfólio lançado."
 
A Cana Bt aprovada para comercialização já foi plantada em 400 hectares por cerca de cem usinas Brasil afora, mas não deve ser moída na temporada que está prestes a começar.
 
Isso porque, segundo Leite, as usinas trabalharão primeiro na multiplicação dessa variedade, enquanto aguardam aprovação de importadores de açúcar.
 
Ele estima que serão necessários em torno de três anos para multiplicar no campo a cana com resistência à broca e elevar o plantio para uma grande escala, cerca de 1,5 milhão de hectares, de um total de aproximadamente 10 milhões plantados com cana no Brasil.
 
Nesse caminho, está a montagem do portólio de cana transgênica do CTC, que espera ter de "oito a dez" variedades resistentes à broca até 2021, provável ano do IPO da companhia.
 
"Não é uma data escolhida ao acaso. É quando a gente acredita ter as características necessárias para caracterizar o CTC como uma empresa de biotecnologia... Já vai ter uma volume razoável, uma taxa de crescimento demonstrada que permite que as pessoas tenham uma noção melhor dos benefícios que os transgênicos podem trazer para a empresa", comentou.
 
O IPO está nos planos do CTC desde 2014. Naquele ano, o fundo de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDESPar) integrou o quadro acionário da empresa de biotecnologia, que, por sua vez, passou a ser listada no Bovespa Mais, segmento da bolsa paulista sem negociação de papéis.
 
Segundo o presidente do CTC, a empresa já trabalha com novas variedades de cana resistentes não só à broca, mas também a herbicidas, como glifosato, e ao bicudo, uma das principais pragas da cultura, avanços esses que representariam ganhos para os produtores.
 
Para ele, essa é uma "segunda onda" no trabalho do CTC, caminhando lado a lado com as pesquisas em torno de sementes artificiais de cana, lavoura que naturalmente se desenvolve a partir de mudas.
 
"Estamos trabalhando com uma semente, que basicamente é um embrião revestido. Obviamente, produzir isso em larga escala... você vai ver que vai precisar de muitos bilhões de sementes por ano. Então é preciso criar um processo que seja economicamente viável e produtivo o bastante para suprir essa necessidade", disse ele, dizendo que as pesquisas estão em "estágios iniciais", disse.
 
"É ainda um projeto que tem uma série de desafios tecnológicos, mas é, junto com a biotecnologia, a maior oportunidade de alavancagem de produtividade para o Brasil", afirmou.
 
Mais instalações
 
Estabelecido em 1969 em Piracicaba (SP), o CTC, que tem grandes empresas do setor como Copersucar, Raízen e São Martinho como acionistas, reestruturou-se ao longo desta década como Sociedade Anônima, passou a gerar receitas por meio da cobrança de royalties e direcionou seu plano de negócios para pesquisas, o que inclui os estudos com novas variedades de cana.
 
Com investimento anual da ordem de 200 milhões de reais e receita operacional de 132,8 milhões no ano 2016/17, encerrado em março do ano passado, o CTC também abrirá mais um polo de melhoramento genético no Nordeste do Brasil e planeja estruturar um "hub" de biotecnologia nos Estados Unidos ainda no primeiro semestre de 2018, disse Leite.
 
"Há uma iniciativa que está sendo levada ao Conselho (de Administração), portanto não está aprovada ainda, que é ter um hub de biotecnologia lá fora também... Está em fase final de aprovação", afirmou Leite.
 
O local escolhido para esse laboratório foi Saint Louis, no Estado norte-americano do Missouri, onde a gigante Monsanto tem justamente sua sede e há diversas startups focadas em biotecnologia, explicou.
 
"Saint Louis é o 'Silicon Valley' (Vale do Silício) da biotecnologia agrícola", afirmou o executivo, acrescentando que o Conselho da companhia irá deliberar sobre o assunto neste mês e, uma vez aprovado, "em 1º de abril já terá gente indo para lá".
 
"É importante para a gente acompanhar de perto o que há de mais badalado nessa área (da biotecnologia)", comentou, sem dar estimativa de investimento para o laboratório nos EUA, nem se os trabalhos devem ser concluídos no primeiro semestre.
 
Além da perspectiva de um "hub" de biotecnologia em Saint Louis, o CTC também aposta em mais um polo de melhoramento genético no Nordeste.
 
Segundo Leite, a instalação deve ser aberta em abril em Coruripe (AL) e vai se somar aos outros 25 espalhados pelo país, a maioria na região centro-sul.
 
O polo de Coruripe, uma estação experimental, é uma parceria com a Usina Coruripe e tem como objetivo a seleção e desenvolvimento de variedades adaptadas ao Nordeste. Trata-se de uma demanda antiga do mercado, já que as condições locais diferem daquelas do centro-sul, onde se concentra mais de 90 por cento da cana produzida no Brasil.
 
Em janeiro, a empresa já havia inaugurado um polo em Juazeiro (BA), em uma parceria com a empresa KCBiotech e focado em experimentos regulatórios para variedades de cana geneticamente modificadas.
 
O CTC não revelou quanto foi investido nesses polos.
 
Fonte: Reuters via Cana Online