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Desvalorização do real favorece aquisição de terras no Brasil

A BrasilAgro prevê para este ano boas oportunidades para compra de terras agrícolas no Brasil. "As terras estão mais baratas para comprar em dólar, então há oportunidade (no mercado de terras)", disse o diretor presidente da BrasilAgro, Julio de Toledo Piza, ao Broadcast Agro, serviço de notícias em tempo real sobre agronegócio da Agência Estado. Só em janeiro a alta do dólar é de quase 3% e, em um ano, chega a 58%. A valorização favorece os planos da empresa, que recentemente anunciou a intenção de ampliar seu portfólio. Piza lembra que ao mesmo tempo em que propriedades se tornaram mais baratas em dólar, muitos produtores com dívidas na moeda norte-americana viram seu débito em real aumentar e a venda de terras é uma alternativa para obter recursos rapidamente.
 
Em dezembro, durante reunião pública da empresa com investidores, Piza havia dito que "ficaria surpreso se não houvesse uma aquisição de terras (pela empresa) nos próximos três meses". Ele reiterou esta perspectiva, dizendo que "as tratativas estão andando". A empresa, segundo o executivo, vem avaliando "quase todas as regiões em que há produtores de maior porte e com problemas financeiros", com necessidade de levantar recursos para amortizar dívidas no curto prazo. Nestas condições, mencionou terras na Bahia, Mato Grosso, Piauí e Maranhão. "Temos uma posição super confortável do ponto de vista financeiro. Não temos dívida nenhuma em dólar, então o saldo da valorização da moeda ante o real é positivo. Teve gente que no ano passado travou (o preço futuro da) soja em reais e não se beneficiou da valorização da moeda. Nós não tínhamos vendido a soja em reais, então aproveitamos o câmbio", disse Piza.
 
A gestão das variações cambiais e do caixa da companhia tem sido fundamental para garantir rentabilidade. Piza conta que a BrasilAgro optou por negociar soja na moeda norte-americana no ano passado e o mesmo fez com os insumos: em maio de 2015 a BrasilAgro adquiriu dólares para comprar fertilizantes e defensivos para a safra 2015/16. "Víamos que havia perspectiva de valorização muito grande da moeda e por isso nos adiantamos e adquirimos dólares. Conseguimos comprar os insumos bem mais baixos", explicou.
 
Devido ao momento propício para a aquisição de terras, a BrasilAgro também tende a colocar em segundo plano o desenvolvimento de novas áreas. A empresa prevê neste ano desenvolver (abrir área, corrigir solo e aumentar produtividade) apenas 6 mil dos 49 mil hectares de seu banco de terras. "Quando olhamos o câmbio e nossas margens e vemos no setor oportunidades importantes de aquisição, estas operações se mostram mais interessantes para alocar capital do que desenvolver mais áreas", declarou o executivo.
 
Commodities e insumos. Questionado sobre a comercialização da safra de grãos 2015/16, que começa a ser colhida, Piza explicou que a lógica da BrasilAgro é diferente da de produtores, que de forma geral utilizam a venda antecipada para financiar a produção. "Separamos a fixação de preço da soja em Chicago da comercialização física. Podemos ter volume significativo fixado sem ter nenhum quilo de soja vendido e vice-versa", afirmou o executivo. Ele acrescentou que, dependendo das oportunidades do mercado, a companhia pode optar apenas por travar a soja ou por vender o produto físico. Em sua última reunião pública, a BrasilAgro divulgou perspectiva de cultivar 46 mil hectares de suas propriedades com grãos (soja e milho) na safra 2015/16.
 
Em relação à oferta e demanda global de grãos, Piza avaliou que, apesar dos estoques mundiais atuais e de preços internacionais mais baixos que os dos últimos cinco anos, a demanda segue firme. Ele diz que, de parte do mercado chinês, a perspectiva de crescimento menos acelerado não deve ter nas commodities agrícolas o mesmo impacto observado nas commodities metálicas. "Produtos agrícolas são menos afetados pelas variações econômicas de curto prazo da China. O enfraquecimento da demanda de metais é mais imediato que o de commodities", argumentou.
 
Quanto à ampliação da área cultivada com cana-de-açúcar, uma das projeções feitas pela companhia em sua última reunião pública, a proposta é alcançar um crescimento entre 40% e 80%. "De 15 mil a 20 mil hectares seria um número que eu gostaria de atingir", afirmou. Novamente, o dólar fortalecido contribui para o otimismo com o setor, já que o açúcar é exportado em dólares e tem trazido bom rendimento em reais. Mas o executivo lembrou que o ajuste da oferta de cana-de-açúcar no Brasil no último ano também beneficia o setor sucroalcooleiro.
 
Fonte: Agência Estado via Portal UDOP