Para Flávio Castelar, mercado nunca enfrentou momento tão crítico.
O setor sucroenergético nunca enfrentou um momento tão crítico. Apesar da situação delicada apostas na comercialização de tecnologia para o mercado externo e a expectativa de um aumento nos preços do açúcar nos próximos meses devem voltar a alavancar à economia voltada a cana em breve.
O cenário atual de dificuldade do setor e a expectativa de retomada próxima foram comentadas pelo diretor-executivo do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), Flávio Castelar, em entrevista com o Jornal de Piracicaba. Ela também apontou a necessidade de políticas mais claras do governo federal para o setor e abordou a flexibilidade necessária às empresas que apostam no segmento.
“O setor como um todo não está bem. Do produtor a indústria, todos estão passando por dificuldades e muitas empresas com foco apenas na cana-de-açúcar devem baixar as portas até o final do ano. Quando há uma concentração dos negócios em uma só cultura corre-se esse risco e como a cana sempre foi muito forte, existem empresas com 100% de operação voltada ao setor. Quando ele tem um soluço, essas empresas sofrem uma pneumonia”.
Para Castelar a conjunção de uma política equivocada, reflexos de uma crise anterior mal superada e o clima seco que provocou uma das maiores quebras de safra nos últimos anos trouxeram dificuldades a todo o seguimento. Somando a isso, o tropeço da economia brasileira veio agravando uma condição já delicada.
“Estamos entrando em um processo de inflação pressionada e de falta de investimento. Se por um lado o câmbio facilitou as importações, ele também provocou um processo de desindustrialização, porque toda essa entrada de produtos gera uma competição complicada”. Mas não é só o câmbio o vilão dessa história, já que além dele existem em jogo ainda o alto Custo Brasil, que é impactado principalmente pela pesada carga tributária existente no setor produtivo.
Aí entram na conta os custos logísticos altos, uma vez que os transportes dos produtos é feito em maior parte por rodovias, o que encarece a carga. Com isso, disse Castelar, não adianta o empresário reduzir os custos e cortar o faturamento. “Fora da empresa, os impostos vão apertando cada vez mais o cerco e os empresários vão sofrendo muito”.
Para o diretor executivo, o grande alento é que o setor é cíclico. “Temos mais de 9 milhões de hectare de cana plantados e isso não termina do dia para a noite. A previsão também é de que o preço do açúcar suba no próximo ano, já que os estoques mundiais estão baixando, e essa valorização deve trazer ânimo ao setor”, afirmou.
REGRAS – Castelar defendeu ainda as medidas mais claras para o setor de etanol hidrato e anidro. Em sua visão, a possibilidade de aumento na mistura do álcool anidro à gasolina vem como um incentivo ao mercado, mas ele é apenas um paliativo. Ou seja, “ajuda, mas não resolve”. “O empresário sabendo as regras do jogo decide o que fazer e como agir. O biocombustível é um negócio a médio e a longo prazos e há uma certa demora para ter retorno do capital investido. Se o empresário não sabe como a economia vai se comportar nos próximos meses, isso é pior do que qualquer câmbio desfavorável”.
Ele reforçou ainda os benefícios trazidos pelo etanol, que além de ser menos poluente, gera toda uma cadeia de emprego e renda, e destacou os projetos do Apla em parceria com a Aplex-Brasil para incentivo ás empresas do setor, sobretudo na exportação de tecnologia para produção de biocombustível.
“Temos um mercado externo que sinaliza de forma cada vez mais positiva e muitas das empresas ligadas ao setor sucroenergético conseguiram se manter abertas porque estão exportando. Desde 2007, quando começou esse programa, temos colhido bons resultados, mas a venda ainda depende daqueles fatores tão falados como câmbio, competitividade, entre outros. Há oportunidades, mas é preciso mais. Estamos fazendo nossa lição de casa, mas todos têm de caminhar juntos. Luz no fim do túnel tem”, afirmou.
Fonte: Jornal de Piracicaba