Efeito de mais etanol na gasolina ainda é estudado por montadoras
O aumento da porcentagem de etanol na gasolina comum e na aditivada, de 25% para 27% a partir de 16 de março, anunciado nesta quarta-feira (4), não fará diferença para carros equipados com motor flex, que representaram 88% dos veículos novos licenciados em 2014.
Para os equipados com motor a gasolina, caso de muitos importados, o aumento de 2 pontos percentuais também não deverá trazer grandes impactos, dizem especialistas ouvidos pelo G1. Porém, conforme o nível aumenta, podem aparecer problemas de corrosão, falha na bomba de combustível e aumento do consumo, especialmente em modelos mais antigos, sem injeção eletrônica.
Gasolina premium não muda
A associação dos fabricantes de automóveis (Anfavea) recomenda que os carros a gasolina utilizem a "gasolina premium", cujo percentual de etanol não será alterado por enquanto.
O governo federal aceitou não mexer na mistura desse tipo de combustível por ora, a pedido das montadoras.
Segundo a Anfavea, testes feitos pela Petrobras apontam que não há efeito da nova mistura na performance dos veículos. Porém, ainda conforme a entidade, não existem testes conclusivos sobre a durabilidade dos motores que usam somente gasolina. Essa avaliação está sendo conduzida pela associação e deve ser concluída no fim do mês.
Mais cara, a "gasolina premium" chega a custar R$ 4 por litro. A diferença entre ela e a aditivada está na octanagem, medida de resistência da gasolina à queima espontânea que ocorre dentro da câmara de combustão do motor. A premium, com maior octanagem e ajudam a melhorar a eficiência de motores que operam com maiores taxas de compressão.
“A decisão de manter a gasolina premium inalterada se deve à não conclusão dos testes de durabilidade e, portanto, a Anfavea recomenda que os veículos com motor movidos a gasolina utilizem a premium”, afirmou a entidade.
Maior percentual já usado
Desde 2003, quando foi lançado o primeiro veículo flex no Brasil, a porcentagem obrigatória de etanol na gasolina variou de 20% a 25%, conforme a oferta e escassez do combustível renovável. É primeira vez que o valor subirá acima deste nível, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP).
A agência autorizou a Petrobras a fazer testes com 27,5% de etanol na gasolina no final de 2014, a fim de avaliar a viabilidade técnica da mudança. Anteriormente, a previsão era de aumento para 27,5%, mas os instrumentos de verificação de qualidade existentes nos postos de combustíveis têm limitações para medição fracionada.
Procurada pelo G1, a ANP afirmou que “a questão sobre o aumento do teor de etanol na gasolina está sendo conduzida diretamente pelo Ministério de Minas e Energia, com os testes de viabilidade sendo realizados pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e a Anfavea".
A Petrobras também disse que só o ministério poderá se pronunciar, mas não respondeu às solicitações.
Efeito dos 27% é mínimo, dizem especialistas
Mesmo os propulsores desenvolvidos exclusivamente para gasolina são adaptados pelas fabricantes ao mercado brasileiro, por causa da mistura.
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, o aumento de 2 pontos percentuais não trará maiores impactos, mas, conforme o nível aumenta, é possível que apareçam problemas de corrosão, falha na bomba de combustível e aumento do consumo.
“O downsizing (diminuição dos tamanhos dos motores para melhorar a eficiência) já obrigou o uso de materiais de maior qualidade para suportar maior potência, e também o álcool. Estima-se que uma mistura de até 30% de etanol não deve causar problemas de durabilidade”, afirmou o engenheiro automotivo Marcus Romaro.
“O impacto é pequeno nesse caso, pois o aumento foi baixo. Os efeitos de 25% ou 27% de etanol na gasolina são muito parecidos”, reforça Denis Marum, engenheiro e colunista do G1.
Corrosão
“Os modelos a gasolina que não estiverem adaptados ao etanol vão sofrer basicamente o mesmo que já sofriam. A longo prazo, componentes como bomba de combustível e marcador podem ser comprometidos, mas não é possível generalizar", diz Marum.
“O etanol é mais corrosivo, e a gasolina é mais lubrificante", explica Romaro.
Carros mais antigos, principalmente os que usam carburador, e não injeção eletrônica, para alimentar o motor com combustível, estão mais suscetíveis ao desgaste químico em contato com o etanol, segundo o engenheiro. “O material não é preparado. Pode afetar desde o tanque de combustível e até o motor e escapamento."
Carros flex
Os motores bicombustíveis dominam o mercado brasileiro e estão chegando ao segmento de luxo também. Neles, a adaptação ao etanol é maior.
“Nos carros flex, mais novos, a capacidade de resposta dos sensores ao tipo de mistura é muito rápida e o motor se adapta. Além disso, os componentes já estão preparados para suportar o etanol”, explicou Marum.
Consumo pode aumentar?
O álcool precisa de maior compressão do cilindro na câmara de combustão. Por isso, se colocar etanol em um motor a gasolina, ele trabalhará “folgado”, ou seja, pode sobrar combustível sem queimar ou contribuir para o movimento do veículo.
“O motorista nem vai perceber, mas vai acelerar mais para ter o mesmo rendimento de antes, e, com isso, pode aumentar o consumo”, explica Romaro.
Questionado se uma mudança de percentual do etanol na gasolina poderia invalidar os índices de consumo e eficiência energética dos modelos 2015, o Inmetro informou que "o aumento está dento dos níveis de tolerância previstos no regulamento do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular".
O aumento de 2 pontos percentuais também não altera o cálculo para saber se vale mais a pena abastecer com etanol ou com gasolina, diz o engenheiro Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil. "Continua valendo a regra anterior", afirma.
Como a autonomia do veículo com álcool é, em média 30% menor, para ser vantajosa a sua utilização, o preço do litro também precisa ser 30% menor. Para fazer o cálculo, basta dividir o valor do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado for menor que 0,7, compensa abastecer com álcool. Caso contrário, vale optar pela gasolina.
Não fica mais barata
O governo confirmou que o aumento da mistura não terá impacto sobre os preços finais do combustível, ou seja, não vai aliviar a alta dos impostos repassada ao consumidor desde 1º de fevereiro.
De acordo com o Sindicato do Comércio de Derivados de Petróleo de São Paulo (Sindipetro-SP), a medida resultaria numa redução em torno de R$ 0,001 sobre o preço do litro da gasolina.
Fonte: Do G1, em São Paulo