Etanol de cana poderá impulsionar desenvolvimento sustentável da Guatemala
Para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis no setor de transportes, cuja demanda por petróleo importado tem gerado seguidos prejuízos à economia do país, o governo da Guatemala estuda adicionar até 10% de etanol de cana à gasolina, mais conhecido como E10.
Embora este novo combustível ainda não esteja disponível em larga escala, o diretor Executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, destaca o fato de os guatemaltecos promoverem um Plano Piloto de uso de energia renovável no segmento automotivo, o que poderia tornar a Guatemala o quarto país da América Central a utilizar biocombustível misturado à gasolina, reforçando, assim, o papel da cana para a consolidação de um mercado mundial de etanol.
“A Guatemala já cumpriu uma das etapas mais importantes para a introdução do etanol em sua matriz energética, o teste de viabilidade do E10 em veículos do país. Poderá, no futuro, se juntar a Panamá (E10), Jamaica (E10) e Costa Rica (E7), nações que já adotaram a mistura de etanol à gasolina naquela região das Américas”, informa o executivo da UNICA.
Reflexos positivos da introdução do E10 na Guatemala, acrescenta Sousa, “poderão ser observados na expansão da atividade canavieira voltada para produção de etanol na Guatemala, o que proporcionará inúmeros benefícios ambientais, sociais e econômicos, e no potencial deste biocombustível como indutor de desenvolvimento sustentável, especialmente em países mais pobres localizados em regiões tropicais do planeta. ”
Atualmente, segundo a Associação de Combustíveis Renováveis da Guatemala, atualmente existem cinco destilarias com capacidade instalada para produzir diariamente 790 mil de litros de etanol, 80% deste volume exportado para EUA e União Europeia. Estimativas da entidade apontam que a adoção do E10 pode gerar 7 mil empregos diretos no país.
Caso o E10 fosse padronizado em todos os países da América Central, seria necessário cultivar uma área adicional de 57 mil hectares de cana-de-açúcar na região. Seriam gerados 15 mil empregos diretos, 60% destas vagas destinadas para atividades agrícolas e 40% para construção e operação de unidades industriais. No Brasil, onde a gasolina comum contém até 27,5% de etanol, o setor sucroenergético gerou uma receita de US$ 10 bilhões em divisas externas em 2014, empregando diretamente cerca de 1 milhão de trabalhadores.
Testes
Após seis meses de testes realizados em 2015, o Ministério de Minas e Energia da Guatemala divulgou em dezembro último os resultados verificados na adoção de variados níveis – 5%, 7% e 10% – de mistura de etanol à gasolina em 25 tipos de veículos e cinco motocicletas, todos de diferentes modelos e datas de fabricação.
Segundo os números aferidos pela Oil Test Internacional (OTI), empresa americana de certificação, não se verificou, em nenhum dos casos, problemas de funcionamento que pudessem ser atribuídos ao novo combustível, qualquer que fosse a proporção de mistura. Entre as vantagens observadas, constatou-se aumento na potência, no torque (força do motor) e na octanagem, além de uma redução de até 79% nas emissões de gases de efeito estufa (GEEs), este último dado para o caso do mix E10. Atualmente, a frota guatemalteca de veículos é composta por aproximadamente 2,5 milhões de unidades, quase a sua totalidade exclusivamente abastecida com gasolina.
De acordo com o Chefe de Chancelaria da Embaixada do Brasil na Guatemala, Paulo Tarrisse da Fontoura, o desenvolvimento do Plano Piloto guatemalteco é fruto dos esforços do Brasil e dos Estados Unidos (EUA) em promover o etanol no plano regional, com o apoio da Organização dos Estamos Americanos (OEA).
Na ocasião em que foram apresentados os resultados dos testes, o ministro de Minas e Energia da Guatemala, Juan Pablo Ligorría, classificou a iniciativa, que se inspira na experiência brasileira, como importante exemplo das possibilidades da cooperação Sul-Sul.
Segundo Fontoura, o ministro guatemalteco declarou-se satisfeito com a disposição dos importadores de combustíveis derivados do petróleo para dialogar, em vez de apresentar resistências irredutíveis à possibilidade de adoção de mistura de etanol à gasolina.
Fonte: Unica