O Ministério do Petróleo, Gás Natural e Aço da Índia autorizou nesta quinta-feira (25) que as empresas de petróleo e distribuição de combustíveis comercializem o etanol puro (E100) nos postos de combustíveis. A medida, segundo analistas ouvidos pela Agência UDOP de Notícias, tem um viés econômico e, acima de tudo, ambiental. O Brasil comemorou a medida indiana, pois vê nela uma oportunidade de exportar a tecnologia flex fuel de seus veículos e o know how de mais de 4 décadas na produção e consumo de etanol.
Para o presidente da Consultoria Datagro e membro do Conselho Nacional de Política Energética do Brasil, Plínio Nastari, com a decisão, a Índia passa a trilhar um caminho muito parecido com o Brasil. "Eles têm todas as condições de desenvolver um grande programa de produção e uso de etanol de biomassa de cana, e de outros produtos orgânicos, como grãos deteriorados e celulose, o que deve abrir um mercado muito grande para a transferência de tecnologia, inclusive tecnologia automotiva do Brasil para a Índia", destacou.
A decisão, no entanto, não tem qualquer impacto real imediato, isso porque, não existe na Índia, ainda, uma frota de veículos flex ou mesmo exclusiva a etanol. "Mas a autorização indica uma decisão política importante para o uso de energias renováveis. É o casamento da tecnologia automotiva com a disponibilidade de bioenergia", explicou Nastari.
Outro ponto favorável da medida é a possibilidade das usinas indianas transformarem o excedente de açúcar, que nesta safra deve atingir 6 milhões de toneladas, em etanol. Em meados de janeiro, o governo indiano já havia anunciado que anteciparia para 2025 o aumento da mistura de 20% de etanol na gasolina consumida por eles. Na safra 2021/22 a mistura deve atingir 10%.
Calcula-se que as medidas adotadas pelo Ministério do Petróleo da Índia devam ter um impacto próximo de 110 bilhões de dólares de economia para os cofres públicos, além da diminuição da dependência energética do país.
Meio ambiente
Outros fatores muito favoráveis com a medida (do aumento da mistura e agora do E100) são voltados para os aspectos ambientais. Das 50 cidades do mundo com a pior qualidade do ar, a Índia acumula 25 delas. O que tem preocupado muito as autoridades locais.
Para se ter ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS), preconiza índices de até 20 MP2.5 de material particulado no ar, acima disso considera-se como de alta poluição. Em Nova Déli, capital da Índia, o índice, na média do mês de dezembro do ano passado, bateu 300 MP2.5, mais do que 15 vezes o tolerado pela OMS.
Num comparativo, a cidade de São Paulo, com cerca de 20 milhões de habitantes e uma frota de mais de 8,5 milhões de veículos tem, em média, um índice próximo a 16,2 MP2.5, o que reflete o uso do etanol, que emite zero de material particulado.
"Assim, podemos deduzir, também, que a medida indiana vem resolver um problema sério no quesito ambiental vivido por eles", destacou Plínio Nastari da Datagro.
Por fim, a decisão do Ministério do Petróleo e Gás da Índia ainda sinaliza uma rota futura importante, uma vez que com o processo de eletrificação dos motores, que pode vir a ocorrer por diferentes rotas, uma das mais limpas e sustentáveis é a eletrificação com modelos híbridos flex, o que favorece, ainda mais o etanol, agora estimulado e autorizado por eles.
Fonte: Agência UDOP de Notícias