Inovação foi o lema da Fermentec nos últimos 40 anos
A emoção e o sentimento de dever cumprido marcaram a 39ª Reunião Anual da Fermentec, realizada nos dias 19 e 20 de julho, em Ribeirão Preto-SP, ocasião na qual foram comemorados os seus 40 anos de fundação. O evento, que desta vez teve como tema “Longevidade”, reuniu profissionais de usinas, destilarias e empresas ligadas ao segmento e a programação contou com palestras e uma feira com expositores fornecedores de tecnologias e equipamentos para as unidades. Sediada em Piracicaba, a companhia desenvolve metodologias e transfere tecnologia para processos em fermentação alcoólica (produção de etanol), fabricação de açúcar, engenharia, entre outras atividades industriais.
O caminho trilhado pela empresa nas últimas quatro décadas foi mote da emocionada palestra proferida por seu presidente, Henrique Vianna de Amorim. O ex-professor de bioquímica contou que seu início foi assessorando a Usina Santa Elisa, depois a Usina da Pedra e a Vale do Rosário.
A melhoria da eficiência interessou a outros grupos, como a Cosan, que o contratou para atender à unidade Costa Pinto e Santa Bárbara. “Em 10 anos tínhamos 60 unidades industriais e a perspectiva de crescimento era grande. Com a introdução da técnica de cariotipagem das leveduras na década de 90, conquistamos um marco para a evolução da tecnologia da fermentação alcoólica”, disse, comentando que há 10 anos a empresa iniciou o processo de isolamento de leveduras personalizadas, ou seja, na própria unidade industrial.
Hoje, 18 unidades têm a sua levedura personalizada. “Hoje 90% das leveduras industriais e vendidas no Brasil para produção de álcool são seleção nossa, como a PE-2 (1994), CAT-1 (1998), FT858L (2007) e a FERMEL (2011), essa para melaço. A CAT-1, selecionada para a Usina Catanduva é um fenômeno, usada também no Canadá, há 12 anos, e pela ESALQ, que faz uma das melhores cachaças do Brasil”, afirmou.
“A introdução da cariotipagem foi um passo importante para manter as eficiências industriais elevadas, já que depois da substituição da colheita manual de cana queimada para a mecanizada, a matéria-prima mudou muito”, explicou Henrique Berbert de Amorim Neto, vice-presidente da Fermentec.
Primogênito do fundador da empresa, o executivo nasceu no ano em que a companhia foi criada e vem acompanhando a evolução da mesma, na qual passou a trabalhar há 12 anos, depois de outras experiências no mercado nacional e internacional. “As tecnologias desenvolvidas pela Fermentec contribuíram para o aumento da eficiência na produção de etanol”, lembrou Amorim Neto. Hoje, a companhia tem 14 sócios e possui mais de 70 clientes, na América do Sul, América Central, Estados Unidos e Canadá.
Tecnologias e sistemas que contribuem com o setor canavieiro
O produtor Ismael Perina Júnior iniciou a programação de palestras explanando sobre MPB (Muda Pré-Brotada) e Meiosi mostrando sua experiência com o sistema. “Com o desenvolvimento e produção em escala da MPB, com grande potencial produtivo e isenção de pragas e doenças, a formação, principalmente de viveiros, ficou muito mais prática e com muita qualidade, a meiosi passou a ser interessante para a formação de novos canaviais”, explicou.
Segundo ele, a técnica foi aprimorada ao longo dos anos e com o uso mais frequente de piloto automático na lavoura de cana, passou a ter uma grande importância quando se tem como intuito ganhos de produtividade e redução de custos. “Outra grande vantagem é a possibilidade de produzir alimentos em áreas de cana-de-açúcar com grandes ganhos na melhoria do solo e da imagem do setor”, disse.
Broca ainda é motivo de muitos prejuízos
A Broca da cana, que ainda causa grandes prejuízos nos canaviais e também na indústria, foi um dos temas discutidos no evento. “Uma usina com 30 mil hectares, com 3% de índice de infestação (III) da praga pode ter perdas agroindustriais equivalentes a R$ 13.738,50, ou seja, R$ 457,90 por hectare.
O que é pior é que, se a média é de 3% de III de broca, chegam a entrar na indústria áreas com mais de 25%, dificultando ainda mais a eficiência e qualidade de todo o processo de produção de açúcar e etanol”, explicou Éder Antônio Giglioti, da Smartbio, ao falar sobre o uso do big data, um recurso cada vez mais difundido entre os players mundiais para ajudar a solucionar este tipo de problema. Na ocasião, ele apresentou a tecnologia de Big Data Mining implantada dentro da plataforma Smartbio, que tem contribuído para aumentar em até 8 vezes a capacidade de levantamento, facilitando o controle da praga, otimizando recursos e evitando perdas.
“O manejo integrado da broca tem sido visto sob um novo olhar através do uso de uma plataforma de sistema de tomada de decisões baseadas em big data mining, computação cognitiva e computação em nuvem. Isso já é realidade em 35 usinas que utilizam a nossa plataforma para automatizar a tomada de decisões assertivas sobre a estratégia de onde, quando e como utilizar cada defensivo, biológico ou químico, em mais de 1.500.000 de hectares”, explicou.
A questão das perdas dentro da indústria e na qualidade do produto final devido à infestação das brocas também foi assunto da explanação de Mário Lúcio Lopes, da Fermentec. “As perdas industriais causadas pela broca estão relacionadas com o aumento de micro-organismos contaminantes na fábrica de açúcar e na fermentação alcoólica.
Estes micro-organismos penetram no colmo da cana pelos orifícios provocados pela broca, com a morte dos ponteiros ou tombamento da cana no solo. A broca afeta a qualidade e a recuperação do açúcar pela indústria”, enfatizou.
Lopes comentou também que a contaminação por fungos causa a podridão vermelha, que associada com a contaminação por bactérias e leveduras selvagens causam inversão da sacarose, redução da pureza da cana, diminuição do pH, formação dextrana, manitol, ácidos orgânicos e compostos que aumentam a cor do açúcar. “Esta contaminação por leveduras e bactérias também afeta o desempenho da fermentação, reduzindo sua eficiência, além de estar associada à formação de espuma em excesso e floculação por leveduras selvagens contaminantes”, disse, completando “A cana infestada por broca eleva os custos de produção, principalmente os insumos como cal, ácido sulfúrico, antibióticos e antiespumantes”.
Ao dar exemplos, ele contou que em estudos de casos avaliados, para cada 1% de aumento na intensidade de infestação da cana por broca foram observadas perdas agroindustriais de 3,63 kg açúcar/ton cana e 5,2 L etanol/ton cana, além de perdas exclusivamente na indústria com redução do RTC de 1,48% em um dos casos analisados.
Inovações tecnológicas a favor do campo
Thiago Lobão, sócio da SP Ventures, uma empresa cujo principal foco é a gestão e condução de investimentos gestores de investimentos em Venture Capital no Brasil, falou sobre AgTech e destacou a importância do agronegócio brasileiro do ponto de vista de desenvolvimento tecnológico, de conexão entre academia e mercado, de capacidade das pessoas e de tamanho de potencial de mercado, frente a outros setores no Brasil. “Nos surpreendemos com o potencial do agro.
Devido a isso nossa empresa está focada na indústria canavieira e, em algumas outras industrias agrícolas”, disse ele, contando que, atualmente, 11 empresas agrícolas fazem parte de sua carteira, com um investimento de quase R$ 70 milhões aplicados.
Lobão mostrou ainda como este mercado vem crescendo. “Segundo relatório do banco Goldman Sachs, o agro mundial movimenta US$ 1,1 trilhão, atualmente, e há uma estimativa de incremento de até US$ 240 bi de valor de mercado no segmento pelo simples advento da agricultura digital, isso com o objetivo de alimentar a população mundial em 2050”, elucidou.
Na ocasião, Raphael Azevedo, do BNDES, mostrou os benefícios do BNDES Soluções Tecnológicas, um produto financeiro que tem como objetivo apoiar o mercado nacional de transferência de tecnologias, concedendo financiamento às empresas e demais instituições brasileiras que desejem adquirir soluções para inovar em seus produtos e processos. “Para que a solução possa ser financiada, a tecnologia deverá ter passado pela etapa de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e estar disponível para aplicação imediata”, explicou Azevedo.
Essa plataforma online funciona como uma vitrine virtual para exposição de todas as soluções credenciadas no BNDES. Através do Portal BNDES Soluções Tecnológicas, compradores e demais interessados no mercado de soluções tecnológicas podem navegar e conhecer as soluções existentes nas mais diversas áreas do conhecimento e disponíveis para aplicação nos mais diferentes setores da economia. “Este produto visa atuar não apenas na frente do financiamento disponibilizando os recursos financeiros necessários à aquisição de soluções, mas também auxiliando na consolidação de um canal de comunicação entre a oferta e a demanda por tecnologias no país”, concluiu.
Efeito da chuva nos canaviais
Umidade e chuva na safra 2017/18 e as dificuldades no processo de produção foram apresentadas por Claudemir Domingos Bernardino, diretor de Tecnologia da Fermentec. “Os clientes da Fermentec registram moagem acumulada de 40.793.634.86 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no final de junho, valor 7,56% inferior quando comparado ao mesmo período do ano passado”, disse.
O atraso no processamento foi registrado em praticamente todas as regiões produtoras, exceto em Mato Grosso e Goiás, isso devido ao prolongamento da entressafra e ao menor tempo de aproveitamento geral, considerando a extensão do período chuvoso que impactou as operações de colheita da cana.
Em função dos dias perdidos, poderá haver ampliação do período de safra. “45% dos clientes Fermentec têm intenção de processar cana em dezembro”, contou.
Bernardino enfatizou ainda que a umidade relativa do ar está sete pontos a mais e isso tem como reflexo um índice maior de impurezas vegetal e mineral na matéria-prima, representando dificuldades na usina, como desgastes dos equipamentos de recepção, preparo e extração, aumento de perdas em lavagem de cana, torta e águas residuais e diminuição da recuperação industrial, por isso, é necessário fazer o controle dessas impurezas.
Oportunidades boas para o etanol de milho
As perspectivas para o crescimento da produção de etanol de milho também ganharam espaço no encontro. “Considerando a geração de valor na cadeia de milho, sabemos que hoje ele constitui 75% da ração animal para produção da carne de frango, por exemplo. Entretanto, analisando os cenários atuais e futuros, o etanol de milho, bem como a produção DDGS a ele vinculada, despontam como grande potencial de retorno financeiro.
Logo, dentro desse quadro, temos as possibilidades das Plantas Flex, integradas e autônomas para potencial produção de etanol de milho”, afirmou Glauber Silveira da Silva, da Aprosoja e Abramilho, ao apresentar a palestra “Oportunidade para transformação de milho em etanol” Alexandre Godoy, da Fermentec, reforçou a opinião de Silva, dizendo que o cenário é extremamente favorável ao etanol de milho, diante da demanda mundial por combustíveis sustentáveis e compromisso assumido na COP 21, que prevê acréscimo de 50 bilhões de etanol até 2030 na produção nacional. “Além disso, pode-se aproveitar a estrutura já existente e disponível nas usinas do Centro-Sul, eliminando a ociosidade industrial”, disse.
Ídolo do basquete encerra evento
A experiência de 32 anos dentro das quadras, onde defendeu por 20 anos a Seleção Brasileira de Basquetebol, foi inspiração para a palestra motivacional apresentada pelo ídolo do basquete, Oscar Schmidt, que encerrou a reunião. O ex-jogador levou o público a dar boas risadas e também a se emocionar com algumas passagens de sua carreira. Após deixar o esporte, o “mão santa”, como é conhecido, passou a contar sua história, tendo já proferido mais de 800 palestras para mais de 500 empresas.
Prêmio Excelência Fermentec – safra 2016/2017
Durante a 39ª reunião aconteceu a entrega do Prêmio Excelência Fermentec – safra 2016/201. Em sua 13ª edição, a premiação foi entregue nas categorias pioneirismo, amostragem, desempenho analítico químico, desempenho analítico microbiológico e estrutura laboratorial.
O prêmio é destinado aos clientes com a intenção de estimular o desenvolvimento do controle industrial das unidades produtoras de açúcar e de etanol, e ainda tem o intuito de reconhecer o esforço e a dedicação da área de qualidade e afins e destacar a execução dos trabalhos realizados.
Representantes de usinas parceiras da Fermentec há mais de quinze anos também receberam um reconhecimento como também foram homenageados profissionais que ajudaram e contribuíram para o desenvolvimento da companhia. José Paulo Stupiello, ex-professor da Esalq e presidente da STAB, e Celso Silveira Melo Filho, um dos fundadores da Usina Costa Pinto, da Raízen, foram uns dos homenageados, assim como Henrique Vianna de Amorim, que recebeu a homenagem dos seus funcionários.
Crescimento merecido
A trajetória de crescimento da empresa foi saudada por Mônika Bergamaschi, presidente da ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto) e do Ibisa (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio). “A maneira como começaram, o respeito que adquiriram e tudo o que eles têm feito até hoje são admiráveis. A inovação que vem trazendo ideias novas, assuntos novos, muitos deles apresentados nesta reunião, como o etanol de milho como alternativa para incremento de renda, principalmente em usinas flex, e o alerta para necessidade de se ter canaviais cada vez mais saudáveis pela implicação que isso pode ter em todo o processo industrial e consequentemente em renda, é muito interessante”, admitiu a executiva.
Para Mônika, trazer à tona esses temas em um momento atual, quando estão em pauta os programas RenovaBio e Rota 2030 e a perspectiva boa de ter um planejamento estratégico de longo prazo para definir a posição correta do biocombustível na matriz energética, é essencial. “As inovações que estão surgindo podem ser uma grande alternativa para viabilizar uma série de negócios, que hoje praticamente trocam investimentos e receitas, então acho que é muito bacana. Está de parabéns a Fermentec, tenho muitos amigos que estão lá dentro desenvolvendo um trabalho sensacional e hoje prestaram uma homenagem muito importante aos parceiros desses 40 anos e que venham outros 40. Eles merecem!”.
Fonte: Revista Canavieiros