Michelin começa a fabricar pneus agrícolas no Brasil
Desde junho, a unidade da Michelin, no Rio de Janeiro, começou a produção de pneus para a agricultura. A fábrica é a primeira fora da Europa a produzir a linha indicada para todos os segmentos do agronegócio com a tecnologia Ultraflex, que possibilita ao pneu trabalhar sob baixa pressão, compactando menos o solo, obtendo, assim, melhor rendimento, além de preservar o meio ambiente e economizar combustível. As outras unidades voltadas à produção agrícola ficam na Espanha, França e Polônia.
"Ao iniciar a fabricação de pneus agrícolas na América do Sul, a Michelin tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma produção agrícola com a preservação máxima do solo”, disse Nour Bouhassoun, presidente da Michelin na América do Sul, à imprensa, durante apresentação da unidade industrial, que recebeu aporte de R$ 100 milhões em adequações para produzir 40 mil pneus por ano, em 20 diferentes dimensões. O valor faz parte de um plano de expansão da multinacional, que já investiu no Brasil, nos últimos cinco anos, 1,5 bilhão de euros. “Acreditamos no potencial do país e confiamos que a crise econômica é passageira, por isso, continuamos a apostar aqui, onde estabelecemos raízes há mais de 35 anos”, disse o executivo.
Bouhassoun ressaltou ainda, que a Michelin é comprometida com a sustentabilidade e está realizando grandes esforços para a redução da pegada ambiental em suas unidades industriais, como a de Campo Grande, no Rio de Janeiro, uma das maiores que eles têm. “No Brasil, um dos nossos compromissos é reduzir em cerca de 40% nossa pegada ambiental, graças ao aumento em 25% da eficiência em nossos sites industriais até 2020”, explicou.
Com a nova linha de produção, a empresa tem como meta consolidar sua liderança no mercado radial, principalmente no Brasil e na América do Sul, onde há a maior demanda de diversos setores do agronegócio. “Hoje, apenas cerca de 6% dos pneus agrícolas vendidos no Brasil são radiais, enquanto que, na Europa, esse número chega a 87%”, afirmou na ocasião, Emmanuel Ladent, diretor mundial da Divisão Agrícola da empresa, pontuando que isso pode mudar, já que a radialização dos pneus agrícolas é uma das principais alavancas de desenvolvimento do setor, oferecendo ao agricultor um produto de alta durabilidade, capaz de reduzir a compactação do solo e gastos com combustível.
De acordo com Christian Mendonça, diretor de Comércio e Marketing de Pneus Agrícolas da Michelin América do Sul, a companhia vem ganhando market share, sendo líder no mercado de reposição, detendo 63% da participação e 26% do mercado total. “As máquinas novas não vêm com a tecnologia radial, pois o governo oferece o Finame (financiamento de máquinas e equipamentos) como incentivo para aquisição de máquinas novas, e uma das exigências do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a liberação do crédito é que 60% desse equipamento tenha conteúdo nacional”, explicou, afirmando que, a partir de agora, com a linha de produção no Brasil, as fabricantes de máquinas poderão optar pelos pneus radiais.
“A Michelin já tem parceria com a CNH (Case e New Holland), John Deere e AGCO (Challenger, Fendt, GSI, Massey Ferguson e Valtra), que usamos pneus radiais em seus equipamentos. Com a fabricação nacional, podemos atender não só o mercado de reposição, mas aumentar a participação do mercado total”, afirmou.
Tecnologia avançada
Os impactos da última tecnologia da empresa foram tema de estudo realizado pela universidade britânica Harper Adams, que constatou o aumento de produtividade de uma lavoura em 4%, quando todas as máquinas envolvidas na produção têm os pneus radiais comuns substituídos por pneus com a tecnologia Ultraflex IF (Increased Flexion) e VF (Very High Flexion).
Os resultados do estudo foram apresentados pelo professor da universidade, Peter Mills, durante a inauguração da linha de produtos específicos para o agronegócio, no Rio de Janeiro.
"Se trouxermos este estudo para a realidade brasileira, podemos dizer que um produtor de soja de dois mil hectares consegue uma produtividade média de 3.120 kg/ha (52 sacas/ha). Com este aumento de 4% na sua produtividade, considerando o preço da saca de 60 kg de soja a R$ 80,00, há um ganho real de mais de R$ 320 mil por safra", afirmou Mendonça.
Segundo ele, alguns ensaios já foram realizados em Mato Grosso e no interior de São Paulo, a fim de se atestarem os benefícios da tecnologia em solos brasileiros, e novos estudos devem acontecer ainda neste e no próximo ano.
Depoimentos de empresas como a usina Ferrari, que usa pneus radiais desde 2010, conseguindo reduzir seus gastos com o produto, em 55%, comprovam que a cadeia canavieira também já vem fazendo uso da radialização. “O setor sucroenergético é muito importante para nós. Hoje fizemos o primeiro faturamento desta fábrica e foi justamente para o segmento", contou ele, afirmando que o lote de pneus agrícolas foi adquirido pela empresa Antoniosi, de Matão-SP.
Fonte: Revista Canavieiros