Novo selo busca valorizar o 'Vale do SilÃcio' do campo
Pesquisadores e empreendedores do agronegócio lançam oficialmente na quinta-feira o AgTech Valley, Vale do Piracicaba, primeiro selo de denominação de um polo brasileiro de tecnologia voltado exclusivamente à inovação agrícola.
A intenção é aproveitar o ambiente de conhecimento do município paulista, fomentado pelo campus da Escola de Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/ USP) e as empresas agrícolas já instaladas na região para criar uma marca capaz de gerar valor aos produtos e serviços desenvolvidos.
"Estamos entre as cinco melhores faculdades do mundo em estudos de agricultura tropical e temos hoje no vale do rio Piracicaba dezenas de empresas de inovação pesquisando desde etanol de segunda geração até microorganismos que capturam carbono. Somos o 'Vale do Silício do agronegócio'. Precisamos usar isso a nosso favor", afirma Mateus Modin, professor do Departamento de Genética da Esalq e um dos idealizadores da iniciativa. "Não é possível estarmos em pleno século XXI e ainda sermos reconhecidos no país pela pamonha".
As conversas para a criação de uma marca reconhecida para a inovação agrícola de Piracicaba surgiram em uma sala da CanaTec Coworking, espaço no centro da cidade onde empresas novatas elaboram projetos para o segmento sucroalcooleiro, ainda hoje um carro-chefe nas pesquisas. Além de dividir a mesa de trabalho, diz Modin, os jovens profissionais buscam ali "a sinergia que acontece quando pessoas talentosas geram um fluxo de troca de ideias e experiências". De certa forma, uma síntese do atual espírito empreendedor da cidade.
Não é só a nomenclatura que remete o vale paulista ao do Silício, o polo de tecnologia mais inovador do mundo. E se as startups de Palo Alto são atraídas pela efervescência da Universidade Stanford, fomentando empreendedorismo e inovação, os três mil alunos, Mateus Modin (esq.) e Sérgio Barbosa: Piracicaba, no interior de São Paulo, é muito mais do que a "terra da pamonha" 250 docentes e 150 laboratórios da Esalq têm exercido influência similar na formação do agronegócio brasileiro.
Um levantamento inicial realizado pelo professor Modin identificou a presença de 89 empresas agrícolas no vale, incluindo startups incubadas na Esalqtec e grandes empresas como a Raízen, também representada no Parque Tecnológico. Mas há mais delas, e outra vantagem do selo será juntar pontas, apresentar fornecedores e compradores e criar uma rede local de inovação e de negócios.
"Não há nenhuma região no Brasil com essa concentração de intelecto no agronegócio, mas essa concentração é desorganizada. Com o Vale do Piracicaba vamos mudar isso, para nos apresentar de forma diferente", diz Sérgio Barbosa, gerente-executivo da EsalqTec, a incubadora da Esalq. "Queremos que o estrangeiro não veja outra possibilidade a não ser vir para cá quando quiser atuar em agronegócio no país". O nome bilíngue da marca sugere essa pretensão, AgTec para os de fora, Vale do Piracicaba para o consumo doméstico.
Com dez empresas já "graduadas" desde a criação da incubadora, em 2006, e mais de 50 projetos ativos, o selo chega como suporte extra a quem está nascendo agora. Casos das startups Pragas.com, de insetos para pesquisas (ver abaixo), e a @Tech, voltada à pecuária de corte e leite. "O 'Vale do Piracicaba' não só ajudará a imagem da nossa empresa, mas reduzirá custos e otimizará resultados, na medida em que fortalece um grupo com objetivos iguais e localizado no mesmo lugar", observa Cristiane Tibola, diretora da Pragas.com.
No campus central da Esalq, os banners do "Vale do Piracicaba" já são vistos por toda parte. A logomarca pode ser baixada gratuitamente no portal da iniciativa, desde que a empresa atue em inovação no agronegócio na região.
A possibilidade de atração de mentes novas à cidade levanta expectativas também no setor imobiliário. Angelo Farias Neto, diretor da Secovi de Piracicaba, diz que o município tem oferta de condomínios e loteamentos para galpões e terrenos industriais, mas nota que há projetos engavetados esperando sinais positivos do mercado. "Nossa expectativa é que a divulgação sistemática desse polo movimente a economia e aquisição de terras".
Fundada em 1767, Piracicaba guarda em sua história marcos como o primeiro engenho central de açúcar, no século XIX, e a chegada nos anos 1920 da Dedini, que veio a ser a maior empresa de equipamentos para a indústria sucroalcooleira, atualmente a empresa está em recuperação judicial.
Mas é para a pamonha que os esalquianos e empreendedores do campo olham quando pensam no futuro do "Vale do Piracicaba". O município paulista catapultou para o país o conceito da venda móvel da iguaria, na indefectível gravação "Pamonha, pamonha, pamonha. Pamonhas fresquinhas de Piracicaba". O slogan surgiu por acaso, diante do desespero financeiro de uma família local que, de certa forma inovando, vendeu a idéia do produto de uma terra onde sequer milho há. "Esse é o maior case de marketing. Queremos repetir isso no AgTec", afirma Modi.
Fonte: Valor Econômico via Revista Canavieiros