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Primeira safra do RenovaBio tem 85% do etanol certificado

A safra 2020/2021 da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil se encaminha para o encerramento tendo como principal avanço a bem-sucedida implantação da Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio. Atualmente, 65% das empresas produtoras de etanol no país participam do programa e estão certificadas e aptas a emitirem créditos de descarbonização (CBios) – essas empresas representam cerca de 85% da produção nacional de etanol.

 

Até dia 11 de dezembro de 2020 foram registrados mais de 17 milhões de CBios e mais de 80% dos títulos haviam sido adquiridos para o cumprimento das metas pelas distribuidoras. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA) estima que até 31 de dezembro a soma de CBios gerados deve chegar a 18 milhões.  Na safra 2020/2021, que vai até 31 de março, esse número pode atingir 23 milhões.

 

“Mesmo com os desafios deste ano conseguimos tornar o RenovaBio uma realidade.

Assim, entregamos para a sociedade brasileira um novo patamar de transparência e mensurabilidade da pegada de carbono, sem paralelo no mundo”, analisa Evandro Gussi, presidente da UNICA. “Precisamos destacar o trabalho sério realizado pelo Ministério de Minas e Energia, pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, pelo Congresso Nacional e pelo Conselho Nacional de Política Energética na implementação da política”, complementa.

 

Atualmente, 215 unidades produtoras de etanol, 22 unidades produtoras de biodiesel e 1 produtora de biometano estão certificadas. A Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio foi desenhada para atingir parte das metas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) estipuladas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris. O programa compara a pegada de carbono dos diferentes biocombustíveis em seu ciclo de vida (da produção à combustão no veículo) para mensurar a redução de emissões proporcionada frente à alternativa fóssil e estabelece metas decenais de descarbonização, que são cumpridas com o aumento do uso de combustíveis renováveis e a comercialização de créditos de carbono (CBIO).

 

Safra 2020/2021 registra recorde na oferta de açúcares 

 

Dados apurados até 1º de dezembro de 2020 confirmam a safra 2020/2021 como o ciclo em que a cana-de-açúcar cultivada no Centro-Sul mais ofertou matéria-prima para produtos (açúcar e etanol). A quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) produzido pelas empresas até o início de dezembro, totalizou 86,33 milhões de toneladas, superando os dados finais registrados nas safras anteriores. A projeção para o final do ciclo 2020/2021 é de 87,54 milhões de toneladas de ATR no acumulado desde abril de 2020 até março de 2021.

 

Essa condição decorre da maior moagem de cana-de-açúcar e, principalmente, da melhora na qualidade da matéria-prima processada. De fato, até 1º de dezembro a moagem acumulada atingiu 594,88 milhões de toneladas (+3,32%) e a concentração de açúcares na planta alcançou 145,13 kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar (+4,24%).

Para o final da safra 2020/2021, a quantidade de matéria-prima processada deve atingir 605 milhões de toneladas, com índice de qualidade de 144,70 kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar.

 

“No ciclo 2015/2016, a moagem de cana-de-açúcar atingiu recorde de 617,71 milhões de toneladas, mas a qualidade da matéria-prima ficou apenas em 130,51 kg de ATR por tonelada de cana. Nesse ano, o volume foi menor, mas a qualidade foi muito superior. A maior concentração de ATR no ciclo 2020/2021 equivaleria a um processamento de quase 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar a mais com a qualidade dentro da média dos últimos anos”, explica o diretor técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues.

 

Produção de etanol e de açúcar

 

A UNICA estima que 46,04% da cana-de-açúcar processada na safra 2020/2021 será destinada à produção de açúcar, ante 34,33% observados no ciclo anterior.  Com isso, a produção de açúcar esperada para o atual ciclo é de 38,40 milhões de toneladas, registrando incremento de 43,49% na comparação com a safra passada.

“A qualidade excepcional da matéria-prima nesse ano permitiu uma ampliação significativa na produção de açúcar. Para a próxima safra, as indicações de menor oferta de cana-de-açúcar e do restabelecimento da qualidade para o patamar histórico devem provocar retração na oferta de açúcar”, explicou Rodrigues.

 

Já a produção de etanol deve alcançar 30,44 bilhões de litros no atual ciclo agrícola, com queda de 8,45% comparativamente ao volume observado na temporada passada (33,26 bilhões de litros). Do total produzido no atual ciclo, 9,76 bilhões de litros devem ser de etanol anidro e 20,69 bilhões de etanol hidratado.

 

A produção de etanol a partir do milho, por sua vez, deve alcançar 2,65 bilhões de litros na safra 2020/2021. Trata-se de um incremento próximo a 63% em relação ao volume fabricado no último ano agrícola (1,62 bilhão de litros).

 

Mercado de etanol 

 

Desde o início da safra até 1º de dezembro, as unidades produtoras do Centro-Sul comercializaram 20,47 bilhões de litros de etanol. Desse total, 2,04 bilhões de litros foram direcionados ao mercado externo e 18,43 bilhões de litros ao mercado doméstico.

No mercado doméstico, as vendas de etanol hidratado alcançaram 12,71 bilhões de litros e as de etanol anidro 5,71 bilhões de litros.

“A queda de consumo de combustíveis leves foi muito intensa no início da pandemia, mas já começa a dar sinais de recuperação agora no final do ano. Estamos trabalhando com uma queda de 7% na demanda total de combustíveis do ciclo Otto na safra 2020/2021”, esclareceu o executivo da UNICA.

 

Internacional 

 

O setor sucroenergético brasileiro mais uma vez demonstrou seu valor estratégico para os parceiros comerciais do Brasil, fornecendo produtos com preços competitivos e uma cadeia de valor que protege o meio ambiente e seus trabalhadores. De janeiro a novembro de 2020, exportamos 28 milhões de toneladas de açúcar, um crescimento de 70% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.

 

“Tivemos safras menores em grandes produtores, como Tailândia e Índia, e a flexibilidade de produção da indústria brasileira possibilitou que aproveitássemos essa oportunidade. Observamos elevação na demanda e nos preços”, analisa Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da UNICA. Conforme mencionado anteriormente, os envios de etanol também avançaram e atingiram 2,4 bilhões de litros, incremento de 36% de janeiro a novembro.

 

A atuação do Brasil no comércio exterior foi intensa. Em maio, após negociações, a China deixou expirar sem renovação a política de salvaguarda criada em 2017, que chegou a elevar a tarifa de importação de açúcar a 95%. Com isso, o produto brasileiro voltou a ser competitivo no mercado chinês, com o imposto de entrada de 50%.

 

O painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciado pelo Brasil contra a Índia teve sua primeira audiência adiada por conta da pandemia e realizada em dezembro, com a participação de representantes da Guatemala e da Austrália, que também têm ações contra os subsídios ao açúcar.

 

A Costa Rica também passou a ser alvo de retaliações brasileiras devido ao protecionismo ao mercado de açúcar, com a elevação da tarifa de importação de 45% para 80%. Por fim, na ausência de um acordo mais vantajoso para exportação de produtos brasileiros para os EUA, o governo não renovou a cota para a entrada de etanol importado isento da Tarifa Externa Comum do Mercosul, que beneficiava especialmente os norte-americanos.

Paralelamente, a UNICA identificou um crescente interesse de países em relação aos benefícios do etanol para a redução de gases de efeito estufa, poluição local e diminuição do uso de combustíveis fósseis. “Verificamos em países da América Latina, da África e da Ásia, que possuem clima tropical e subtropical, condições favoráveis para a produção de biomassa de forma competitiva e de uso dessa biomassa para energia”, explica o diretor executivo.

 

Bioeletricidade

 

A geração de bioeletricidade a partir da cana-de-açúcar deve chegar a 22,6 mil GWh ofertados para o Sistema Integrado Nacional (SIN) em 2020, apresentando um crescimento em torno de 1% em relação a 2019. O montante equivalente a 5% do consumo anual de energia elétrica no país ou a atender 12 milhões de residências, proporcionando a redução de 7 milhões toneladas de CO2, marca que somente seria atingida com o cultivo de 49 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.

“Vale destacar que em setembro a Lei 14.052 foi aprovada com o objetivo de resolver a judicialização do risco hidrológico nas liquidações financeiras mensais no Mercado de Curto Prazo, que se arrasta desde 2015 e afeta bastante a bioeletricidade, com uma dívida judicializada R$ 10,3 bilhões”, analisa Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da UNICA. Estima-se que setor sucroenergético tenha a receber em torno de R$ 500 milhões desta dívida.

 

Agenda para o setor de bioeletricidade para o ano de 2021 inclui: avanço do projeto de modernização do Setor Elétrico no Congresso; acordo da dívida sobre risco hidrológico com primeiros pagamentos previstos para abril; expansão do mercado livre que passa a incluir consumidores livres com demanda superior a 1.500 kW (atualmente, exige-se 2.000 kW); e oportunidades para comercialização de projetos novos de bioeletricidade e de biogás em quatro leilões de energia nova.

 

Doações durante a pandemia

 

O álcool 70 tornou-se insumo essencial no combate à disseminação do coronavírus. Com o início da pandemia, as empresas associadas à UNICA pactuaram a doação de 1 milhão de litros para contribuir com o abastecimento das unidades públicas de saúde, de forma gratuita. Nove estados receberam doações: Ceará, Bahia, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina.

“A doação de grandes volumes às secretarias estaduais é apenas uma ação entre inúmeras desenvolvidas pelas empresas associadas nos municípios e estados onde estão localizadas as unidades produtivas”, explica Evandro Gussi, presidente da UNICA. “Para manter a população abastecida dos produtos essenciais, etanol, açúcar, bioeletricidade e álcool para assepsia, o setor adotou regras rígidas de sanidade e segurança para garantir a saúde dos colaboradores”, complementa.

Também foi feita a doação de 332 mil litros de álcool 70% para uso durante as eleições deste ano, em uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O insumo teve como destino a fabricação de álcool em gel para eleitores e a desinfecção de superfícies.

 

Fonte: Unica