A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participou, nesta quinta-feira (10), do seminário “Acordo de Comércio Coreia-Mercosul”, promovido pelo Consulado-Geral da República da Coreia em São Paulo. O evento abordou as negociações entre o bloco econômico e o país asiático do ponto de vista econômico, político, jurídico, tecnológico e geopolítico.
O acordo em negociação prevê livre comércio dos produtos coreanos importados e exportados para o Mercosul. A coordenadora de Inteligência Comercial da Superintendência de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori Andrade, participou do painel “A dimensão política e agrícola do acordo”. Ela apresentou dados da balança comercial entre os dois países e afirmou que a Coreia é um importante parceiro para o Brasil. De janeiro a agosto deste ano, do total de exportações do Brasil para a Coreia, 59% foram de produtos agropecuários.
“Estamos na 4ª posição entre os fornecedores de alimentos para a Coreia. É uma boa colocação, mas poderia ser muito melhor, porque o Brasil não possui as vantagens e preferências que os outros parceiros que já firmaram acordo possuem. Não competimos em pé de igualdade.”
Na avaliação de Sueme, um acordo amplo com o país asiático colocaria o Brasil em uma condição de competição mais próxima dos demais e, além das questões tarifárias, que é uma barreira para o setor devido às altas taxas, também é necessário considerar as questões sanitárias e fitossanitárias e a cesta de produtos agropecuários incluída no acordo.
“O Brasil é um país agro exportador. Então não é possível sentar em uma mesa de negociação sem discutir a abrangência e a ambição desse acordo em pontos como as questões sanitárias e fitossanitárias, por exemplo. A CNA apoia o acordo desde que contemple essas questões e que elas garantam condições reais e concretas de acesso dos produtos agropecuários ao mercado sul-coreano.”
Sueme falou de um estudo que a CNA está desenvolvendo sobre os possíveis impactos do acordo para o setor agropecuário e ressaltou que a Confederação está em diálogo com os Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores, que são os órgãos que conduzem as negociações do acordo comercial.
No painel “Dimensão Econômica”, o professor de Economia Internacional e Economia Chinesa do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), Roberto Dumas Damas, destacou a contribuição do agro para a competitividade brasileira, com a exportação das commodities agrícolas.
Damas defendeu a retirada das indústrias brasileiras da “zona de conforto”, com o intuito de modernizá-las e aumentar a competitividade do País. O professor afirmou ainda que o acordo de livre comércio com a Coreia vai abrir mais o mercado para que o agro não fique totalmente dependente da China, podendo diversificar a pauta de exportações e trazer tecnologia para o Brasil.
Sobre o tema “Dimensão Política/Industrial do Acordo”, o diretor-titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, defendeu menos tributos para a produção industrial e afirmou que a parceria com a Coreia pode acontecer com a transferência de tecnologia, facilitação de comércio e conhecimento técnico-científico.
No painel “Dimensão Jurídica”, o professor-titular de Direito Internacional da USP, Gustavo Mônaco destacou a importância de se conhecer e debater os termos do acordo, inclusive, com a sociedade civil. Ressaltou que o tratado é possível juridicamente. No entanto, ressaltou que não há obrigatoriedade de publicidade dos termos antes da assinatura entre as partes.
O consultor e professor de Direito, Amenio dos Santos, debateu a situação atual do Mercosul. Para ele, o acordo é uma circunstância que deve ser vista estrategicamente pela importância. Porém, devem-se acelerar as negociações para acordos bilaterais.
“Defendo fazer o acordo como guarda-chuva, continuar as negociações, considerar todos os aspectos e peculiaridades, mas fazer um acordo bilateral que pode ser muito mais vantajoso, rápido, eficiente e eficaz, tanto para a Coreia quanto para o Brasil”.
O cônsul-geral da Coreia, Hak You Kim, afirmou que as discussões do seminário vão contribuir para o entendimento dos impactos do acordo na economia do Brasil e da Coreia. “O objetivo de todos nós é criar um ambiente favorável para acelerar as negociações entre as partes.” Kim ressaltou que um acordo de livre comércio será positivo para a retomada da economia dos países envolvidos no PÓS-COVID.
Fonte: Universo Agro/Datagro