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Terras disponíveis no planeta não limitam produção de bioenergia e alimentos, diz estudo

A adoção de práticas voltadas para uma economia de baixo carbono pode assegurar que biocombustíveis, produção de alimentos e recursos naturais sejam gerenciados de forma sustentável no mundo. Esta é a principal conclusão do relatório “Conciliando a Segurança Alimentar e a Bioenergia: Prioridades para Ação” (“Reconciling Food Security em Bionergy: Priorities for Action”), divulgado terça-feira (14/06) pelo departamento de Energia dos Estados Unidos. Para o diretor Executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, o documento reforça mais uma vez a possibilidade de coexistência harmônica e equilibrada entre a produção de alimentos e bioenergia, refutando a ideia de que a produção de biocombustíveis seria a grande vilã pelo aumento da insegurança alimentar.
 
“Com muita propriedade, o trabalho destaca claramente que estudos e manchetes que culpam os biocombustíveis pelo aumento da fome, via de regra, refletem uma distorção intencional para encobrir os verdadeiros responsáveis por esta mazela que assola grande parte do mundo. A aplicação de práticas sustentáveis para a bioenergia poderá – e deverá – contribuir para os objetivos de médio e longo prazos para erradicar a fome mundial”, destaca o executivo.
 
Dentre essas práticas, Sousa lembra um caso emblemático brasileiro, que foi o desenvolvimento do Zoneamento Agroecológico da Cana, pelo qual o Governo Federal definiu as áreas destinadas ao seu cultivo, proibindo plantações em áreas de proteção ambiental, incluindo os biomas Amazônia e Pantanal. “Com este mecanismo, delimitou-se 92,5% das terras agricultáveis do País como inaptas para a o cultivo da cana. Trata-se de uma política pública que, por meio de critérios técnicos, procura direcionar os investimentos privados para a produção sustentável de bioenergia no país”, completou o executivo.
 
Relatório
 
Elaborado por uma equipe de especialistas de dez instituições de pesquisa de sete países (Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Holanda, Argentina, Quênia e Índia), incluindo contribuições do Programa de Pesquisa em Bioenergia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP-BIOEN), o estudo, publicado na edição de maio da Revista "Global Change Bioenergy", aponta práticas para facilitar a sinergia entre a segurança alimentar e a energética.
 
Por meio do desenvolvimento de projetos e políticas bioenergéticas, destacam-se as seguintes orientações: engajamento de stakeholders (pessoas ou organizações que atuam nas indústrias de alimentos e energias renováveis); estimulo à coprodução e diversidade de culturas agrícolas, além de integrar e tornar colaborativos os programas de desenvolvimento locais com objetivos comuns.
 
Em entrevista à Agência Fapesp de Notícias, a coordenadora do Programa FAPESP-BIOEN, Glaucia Mendes Souza, ressalta que "o programa de etanol de cana do Brasil demonstrou, ao longo de 40 anos de monitoramento, aprendizado e adaptação, que é possível conciliar o aumento de incentivos para restauração da terra e serviços ecossistêmicos com o aumento da segurança alimentar e redução da pobreza.”
 
Participaram da elaboração do relatório as seguintes entidades: Banco Mundial, Centro de Política Ambiental do Imperial College London; Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e Programa BIOEN-FAPESP; Universidade de Twente (Holanda); Instituto de Engenharia Rural (Argentina); Instituto de Meio Ambiente de Stockholm (Quênia); e Escritório de Eficiência Energética da Índia.
 
Fonte: Unica